Decisão, Escolhas e Renúncias

19/12/2014 18:33

Alice de Oliveira

 

Hoje enquanto fazia as últimas arrumações, em minha casa, pensei muito a respeito de escolhas, decisões, e renúncias. Me veio imediatamente uma entrevista de Jô Soares, nesta semana que passou, a respeito de uma passagem um pouco engraçada, mas muito séria, que teve com seu filho Rafael, recentemente falecido.
Segundo Jô, ele estava numa livraria com o "menino" (diga-se ele tinha 50 anos, e era autista, portanto morreu um "menino"), e quando viu Rafael, levava nos braços 12 livros, e depositava no caixa. Renitente, Jô diz ao filho, que eram muitos, os livros, e que ele não poderia levar todos; então que escolhesse 6, ao qual Rafael responde: se não puder levar os 12, não quero nenhum; Jô Soares entre estupefato e surpreso,pergunta: mas porquê não? E o grande "menino" responde: se eu escolher, terei de deixar alguns para trás, e eu não quero deixar. Não quero escolher.

Entre uma vassourada e outra, entre brigas com a água e a mangueira que não parava de retorcer-se, fiquei pensando, que realmente a vida é feita de muitas escolhas, e é claro, muitas renúncias. Se tu escolhe uma coisa, é obvio que tens de renunciar a outra, ou a outras. E definitivamente renunciar, é subtrair da tua vida, do teu cotidiano, coisas que necessariamente terão de dar espaço a outras. E que mesmo que tu desejes, almejes, não é das tarefas mais fáceis. Dá um aperto no coração tomar certas decisões, que serão definitivas e imutáveis. Mesmo que tu erre, não poderás retornar, elas já estarão tomadas. É muito complicado e dolorido, sair da "zona de conforto" em que te encontras, mesmo que seja tudo o que tu queira na vida: sair de onde tu está. Implica muita coisa, mexe com a vida de muitas pessoas, mexe com as emoções, mexe com a tua cabeça, mexe com a tua imaginação...e se não der certo, e se eu sentir saudade, e se isso, e se aquilo...
Não irei mais escutar o lindo canto de um sabiá, que se mudou para o bosque no fundo de minha casa, não irei mais sentir o perfume de minha "dama da noite", nas noites quentes de verão, não irei mais ver o balé das abelhas a sobrevoar minha linda glicínia roxa, não irei mais ver meus lírios, copos de leite, íris roxas, e neomáricas, florescerem; não irei mais colher minhas doces pitangas, e muito menos ver a explosão de liláses, que meu hibisco, me presenteia todo ano; nunca mais poderei enfeitar meu pinheiro de Natal, não ouvirei mais minha palmeira sinfônica, a me acordar pela manhã, com o canto de inúmeros pássaros, que nela habitam. Me deu uma grande melancolia, pois sou humana demais, sensível demais, e os meus sensores de lágrimas e sensações que apertam o peito e dão verdadeiros nós na garganta, deram o alerta. E resolvi tirar muitas fotos; da minha casa, das minhas plantas, do bosque contíguo a casa, dos coqueiros gigantes e sinfônicos, pois elas serão as recordações que levarei comigo, além daquelas que carrego no peito, e cérebro, e as imagens que terei para recordar,caso sinta alguma saudade.

É preciso muita coragem para fazer uma mudança deste tamanho, na tua vida. É preciso fazer-se fortaleza, onde aparentemente só existem fragilidades. É preciso ser forte, sensata, mas extremamente segura do que se quer. É preciso lutar, não apenas por aquilo que se deseja, e não é pouco o desejo...mas também é preciso não se deixar levar demais pelas emoções, colocando por quês, e dúvidas, a respeito daquilo que se deve fazer...aquilo que é o teu destino, o teu caminho, o teu futuro.
Como diz um bom amigo: é na dor que se cresce, é nas tuas batalhas internas que se ganham as tuas guerras pessoais. Não existe crescimento pessoal na alegria, e sim na dor.
Como disse o saudoso Rafael: fazer escolhas, é fazer renúncias!!